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Sonho de Uma Noite de VerĂŁo

por William Shakespeare

Sonho de Uma Noite de VerĂŁo

A SOMBRA DE UMA NOITE DE VERÃO de William Shakespeare

Índice

ATO I

Cena I.

Atenas. Uma sala no PalĂĄcio de Teseu

Cena II.

O Mesmo. Uma Sala numa Cabana

ATO II

Cena I.

Uma floresta perto de Atenas

Cena II.

Outra parte da floresta

ATO III

Cena I.

A Floresta.

Cena II.

Outra parte da floresta

ATO IV

Cena I.

A Floresta

Cena II.

Atenas. Uma sala na Casa de Quince

ATO V

Cena I.

Atenas. Um Apartamento no PalĂĄcio de Teseu

Personagens DramĂĄticos

TESEUS, Duque de Atenas

HIPÓLITA, Rainha das Amazonas, prometida a Teseu

ÉGÉU, Pai de Hermia

HERMIA, filha de ÉgĂ©u, apaixonada por Lisandro

HELENA, apaixonada por Demétrio

LISANDRO, apaixonado por Hermia

DEMÉTRIO, apaixonado por Hermia

FILOSTRATO, Mestre das RevelaçÔes de Teseu

QUINCE, o Carpinteiro

SNUG, o Marceneiro

BOTTOM, o TecelĂŁo

FLUTE, o Lapeiro

SNOUT, o Latonista

STARVELING, o Alfaiate

OBERON, Rei das Fadas

TITÂNIA, Rainha das Fadas

PUCK, ou ROBIN GOODFELLOW, uma Fada

PEASEBLOSSOM, Fada

COBWEB, Fada

MOTH, Fada

MUSTARDSEED, Fada

PIRAMO, THISBE, PAREDE, LUAL, LEÃO; Personagens no InterlĂșdio interpretados pelos Palhaços

Outras Fadas que acompanham o seu Rei e Rainha

Servidores de Teseu e HipĂłlita

CENA: Atenas e uma floresta nĂŁo muito longe dela

ATO I

CENA I. Atenas. Uma sala no PalĂĄcio de Teseu

Entram Teseu, HipĂłlita, Filostrato e Servidores.

TESEUS.

Agora, bela HipĂłlita, a hora do nosso casamento

Aproxima-se a passos largos; quatro dias felizes trazem

Outra lua; mas oh, parece-me, quĂŁo devagar

Esta velha lua minguante! Ela retarda os meus desejos,

Como uma madrasta ou uma viĂșva rica,

Que hĂĄ muito tempo esgota a receita de um jovem.

HIPÓLITA.

Quatro dias passarĂŁo rapidamente na noite;

Quatro noites sonharĂŁo rapidamente o tempo;

E entĂŁo a lua, como um arco de prata

Recém-curvado no céu, contemplarå a noite

Das nossas solenidades.

TESEUS.

Vai, Filostrato,

Desperta a juventude ateniense para as festividades;

Acorda o espĂ­rito ĂĄgil e vivaz da alegria;

Manda a melancolia para os funerais;

A companheira pĂĄlida nĂŁo Ă© para o nosso fausto.

[Sai Filostrato.]

HipĂłlita, eu cortejei-te com a minha espada,

E ganhei o teu amor fazendo-te injĂșrias;

Mas eu casar-te-ei com outra chave,

Com pompa, com triunfo e com regozijo.

Entram ÉgĂ©u, Hermia, Lisandro e DemĂ©trio.

ÉGÉU.

Feliz seja Teseu, nosso renomado Duque!

TESEUS.

Obrigado, bom ÉgĂ©u. Que notĂ­cias trazes?

ÉGÉU.

Cheio de aflição venho, com queixa

Contra a minha filha, a minha Hermia.

Apresente-se, Demétrio. Meu nobre senhor,

Este homem tem o meu consentimento para casar com ela.

Apresente-se, Lisandro. E, meu gracioso Duque,

Este homem enfeitiçou o coração da minha filha.

Tu, tu, Lisandro, tu lhe tens dado rimas,

E trocado prendas de amor com a minha filha.

Tens ao luar Ă  janela dela cantado,

Com voz fingida, versos de amor fingido;

E roubaste a impressĂŁo da sua fantasia

Com pulseiras do teu cabelo, anéis, adornos, caprichos,

Bugigangas, quinquilharias, ramalhetes, doces (mensageiros

De forte poder na juventude ainda nĂŁo endurecida)

Com astĂșcia roubaste o coração da minha filha,

Tornaste a sua obediĂȘncia (que me Ă© devida)

Em obstinada dureza. E, meu gracioso Duque,

Se ela não quiser aqui perante a vossa graça

Consentir em casar com Demétrio,

Peço o antigo privilégio de Atenas:

Como ela Ă© minha, posso dispĂŽ-la;

O que serĂĄ ou para este cavalheiro

Ou para a sua morte, de acordo com a nossa lei

Imediatamente providenciada nesse caso.

TESEUS.

Que dizes, Hermia? SĂȘ avisada, formosa donzela.

Para ti, teu pai deve ser como um deus;

Aquele que compĂŽs as tuas belezas, sim, e aquele

Para quem és como uma forma em cera

Por ele impressa, e ao seu poder

Deixar a figura, ou desfigurĂĄ-la.

Demétrio é um cavalheiro digno.

HERMIA.

Assim Ă© Lisandro.

TESEUS.

Em si mesmo ele Ă©.

Mas neste aspecto, faltando a voz do teu pai,

O outro deve ser considerado o mais digno.

HERMIA.

Eu gostaria que meu pai visse apenas com os meus olhos.

TESEUS.

Antes que os teus olhos vejam com o seu julgamento.

HERMIA.

Imploro à Vossa Graça que me perdoe.

NĂŁo sei por que poder me sinto ousada,

Nem como isso pode afetar a minha modéstia

Nesta presença aqui para defender os meus pensamentos:

Mas suplico à Vossa Graça que me diga

O pior que me pode acontecer neste caso,

Se me recusar a casar com Demétrio.

TESEUS.

Ou morrer a morte, ou abjurar

Para sempre a sociedade dos homens.

Portanto, formosa Hermia, questiona os teus desejos,

Conhece a tua juventude, examina bem o teu sangue,

Se, ao nĂŁo cederes Ă  escolha do teu pai,

Podes suportar o hĂĄbito de uma freira,

Para sempre te recolheres num claustro sombrio,

Para viveres uma irmã estéril toda a tua vida,

Cantando hinos fracos para a lua fria e infrutĂ­fera.

TrĂȘs vezes abençoados sĂŁo os que assim dominam o seu sangue

Para empreender tal peregrinação de donzela,

Mas mais feliz na terra Ă© a rosa destilada

Do que aquela que, murchando no espinho virgem,

Cresce, vive e morre, em bendita solidĂŁo.

HERMIA.

Assim crescerei, assim viverei, assim morrerei, meu senhor,

Antes que eu entregue a minha patente virgem

Ao seu senhorio, cujo jugo indesejado

Minha alma nĂŁo consente em dar soberania.

TESEUS.

Toma tempo para pensar; e pela prĂłxima lua nova

O dia do selamento entre o meu amor e eu

Para o vĂ­nculo eterno de companheirismo,

Nesse dia, ou prepara-te para morrer

Por desobediĂȘncia Ă  vontade do teu pai,

Ou então casa com Demétrio, como ele quer,

Ou no altar de Diana protesta

Para sempre a austeridade e a vida solitĂĄria.

DEMÉTRIO.

Suaviza-te, doce Hermia; e, Lisandro, cede

O teu tĂ­tulo louco ao meu direito certo.

LISANDRO.

Tens o amor do teu pai, Demétrio.

Deixa-me ter o de Hermia. Casa com ele.

ÉGÉU.

Lisandro insolente, Ă© verdade, ele tem o meu amor;

E o que Ă© meu, meu amor lhe renderĂĄ;

E ela Ă© minha, e todo o meu direito sobre ela

Eu constituo a favor de Demétrio.

LISANDRO.

Sou, meu senhor, tĂŁo bem derivado quanto ele,

TĂŁo bem possuĂ­do; o meu amor Ă© mais que o dele;

As minhas fortunas em todos os aspectos igualmente bem classificadas,

Se não com vantagem, como as de Demétrio;

E, o que Ă© mais do que todas estas vaidades podem ser,

Sou amado pela bela Hermia.

Por que nĂŁo hei de eu, entĂŁo, procurar o meu direito?

Demétrio, eu afirmo-o à sua frente,

Cortejou a filha de Nedar, Helena,

E ganhou a sua alma; e ela, doce dama, adora,

Adora devotamente, adora em idolatria,

Este homem manchado e inconstante.

TESEUS.

Devo confessar que jĂĄ ouvi falar disso,

E com Demétrio pensei em falar sobre isso;

Mas, estando demasiado atarefado com os meus prĂłprios assuntos,

A minha mente perdeu-o. – Mas, DemĂ©trio, vem,

E vem, ÉgĂ©u; ireis comigo.

Tenho alguns ensinamentos particulares para ambos. –

Quanto a ti, formosa Hermia, vĂȘ se te armas

Para adequar os teus caprichos Ă  vontade do teu pai,

Ou entĂŁo a lei de Atenas te entrega (O que de forma alguma podemos atenuar)

À morte, ou a um voto de vida solitária.

Vem, minha HipĂłlita. Que Ăąnimo, meu amor?

DemĂ©trio e ÉgĂ©u, venham tambĂ©m;

Preciso de vos empregar em algum negĂłcio

Antes do nosso casamento, e conversar convosco

Sobre algo que vos diz respeito.

ÉGÉU.

Com dever e desejo nĂłs vos seguimos.

[Saem todos menos Lisandro e Hermia.]

LISANDRO.

E agora, meu amor? Por que estĂĄ a tua face tĂŁo pĂĄlida?

Como Ă© que as rosas aĂ­ desvanecem tĂŁo depressa?

HERMIA.

Talvez por falta de chuva, que eu bem poderia

Derrubar delas com a tempestade dos meus olhos.

LISANDRO.

Ai de mim! Por tudo o que alguma vez li,

Alguma vez ouvi em conto ou histĂłria,

O curso do verdadeiro amor nunca correu suave.

Mas ou era diferente em sangue –

HERMIA.

Oh cruz! Muito alto para ser cativo de baixo.

LISANDRO.

Ou então mal enxertado em respeito de anos –

HERMIA.

Oh desdém! Muito velho para se comprometer com jovem.

LISANDRO.

Ou então dependia da escolha dos amigos –

HERMIA.

Oh inferno! Escolher o amor pelos olhos de outro!

LISANDRO.

Ou, se houvesse uma simpatia na escolha,

Guerra, morte ou doença assediavam-na,

Tornando-a momentĂąnea como um som,

RĂĄpida como uma sombra, curta como um sonho,

Breve como o relĂąmpago na noite escurecida

Que, num acesso de spleen, desdobra o céu e a terra,

E, antes que um homem tenha poder para dizer: ‘Contempla!’

As mandĂ­bulas da escuridĂŁo devoram-na:

Assim as coisas brilhantes e rĂĄpidas levam Ă  confusĂŁo.

HERMIA.

Se entĂŁo os verdadeiros amantes foram sempre contrariados,

Isso constitui um édito no destino.

EntĂŁo ensinemos a nossa provação paciĂȘncia,

Porque Ă© uma cruz costumeira,

TĂŁo devida ao amor como pensamentos e sonhos e suspiros,

Desejos e lĂĄgrimas, seguidores da pobre fantasia.

LISANDRO.

Uma boa persuasĂŁo; portanto, ouve-me, Hermia.

Tenho uma tia viĂșva, uma duquesa

De grande receita, e ela nĂŁo tem filhos.

A casa dela fica a sete léguas de Atenas,

E ela respeita-me como seu Ășnico filho.

LĂĄ, gentil Hermia, poderei casar contigo,

E para esse lugar a lei ateniense afiada

NĂŁo nos poderĂĄ perseguir. Se me amas entĂŁo,

Escapa da casa do teu pai amanhĂŁ Ă  noite;

E na floresta, a uma légua da cidade (Onde uma vez te encontrei com Helena

Para fazer observĂąncia a uma manhĂŁ de Maio),

LĂĄ te esperarei.

HERMIA.

Meu bom Lisandro!

Juro-te pelo arco mais forte de Cupido,

Pela sua melhor flecha de ponta dourada,

Pela simplicidade das pombas de Vénus,

Por aquilo que une as almas e prospera os amores,

E pelo fogo que queimou a rainha de Cartago

Quando o falso troiano Ă  vela foi visto,

Por todos os votos que algum homem alguma vez quebrou (Em nĂșmero maior do que alguma vez mulheres falaram),

No mesmo lugar que me indicaste,

AmanhĂŁ verdadeiramente encontrarei-te.

LISANDRO.

Mantém a promessa, amor. Olha, aqui vem Helena.

Entra Helena.

HERMIA.

Deus te abençoe, formosa Helena! Para onde vais?

HELENA.

Chamas-me formosa? Retira o que disseste.

Demétrio ama a tua beleza. Oh formosa!

Os teus olhos sĂŁo estrelas-guia e o ar doce da tua voz

Mais afinado que a cotovia para o ouvido do pastor,

Quando o trigo estå verde, quando os botÔes de espinheiro aparecem.

A doença é contagiosa. Oh se a beleza fosse assim,

A tua eu apanharia, formosa Hermia, antes de ir.

O meu ouvido captaria a tua voz, o meu olho o teu olho,

A minha lĂ­ngua captaria a doce melodia da tua voz.

Se o mundo fosse meu, Demétrio à parte,

O resto eu daria para ser em ti traduzida.

Oh, ensina-me como te pareces, e com que arte

Conduzes o movimento do coração de Demétrio!

HERMIA.

Eu franzo o sobrolho para ele, e ele ainda me ama.

HELENA.

Oh, que os teus franzidos ensinassem aos meus sorrisos tal arte!

HERMIA.

Eu dou-lhe maldiçÔes, e ele då-me amor.

HELENA.

Oh, que as minhas oraçÔes pudessem mover tal afeição!

HERMIA.

Quanto mais odeio, mais ele me segue.

HELENA.

Quanto mais amo, mais ele me odeia.

HERMIA.

A sua loucura, Helena, nĂŁo Ă© culpa minha.

HELENA.

Apenas a tua beleza; que essa culpa fosse minha!

HERMIA.

Tem consolo: ele nĂŁo verĂĄ mais o meu rosto;

Lisandro e eu fugiremos deste lugar.

Antes que eu visse Lisandro,

Atenas parecia um paraĂ­so para mim.

Oh, então, que graças no meu amor residem,

Que ele transformou um céu em inferno!

LISANDRO.

Helena, a ti nossos pensamentos revelaremos:

AmanhĂŁ Ă  noite, quando Phoebe contemplar

O seu rosto prateado no espelho de ĂĄgua,

Decorando com pérolas líquidas a relva orvalhada (Uma hora que os voos dos amantes costumam ocultar),

Pelos portÔes de Atenas planeåmos furtar-nos.

HERMIA.

E na floresta onde muitas vezes tu e eu

Em camas de prímulas esvoaçantes costumåvamos deitar,

Desabafando os nossos coraçÔes do nosso doce conselho,

LĂĄ o meu Lisandro e eu encontraremos,

E de lĂĄ voltaremos os nossos olhos de Atenas,

Para procurar novos amigos e companhias estranhas.

Adeus, doce companheira de brincadeiras. Reza por nĂłs,

E boa sorte te conceda o teu Demétrio!

Mantém a palavra, Lisandro. Precisamos de privar a nossa vista

Da comida dos amantes, até à meia-noite profunda de amanhã.

LISANDRO.

Eu irei, minha Hermia.

[Sai Hermia.]

Helena, adeus.

Como tu nele, Demétrio adora-te!

[Sai Lisandro.]

HELENA.

Como alguns sĂŁo mais felizes que outros!

Por toda a Atenas sou considerada tĂŁo formosa quanto ela.

Mas e daí? Demétrio não pensa assim;

Ele nĂŁo saberĂĄ o que todos menos ele sabem.

E assim como ele erra, adorando os olhos de Hermia,

Assim eu, admirando as suas qualidades.

Coisas baixas e vis, que nĂŁo tĂȘm quantidade,

O amor pode transmutar em forma e dignidade.

O amor nĂŁo olha com os olhos, mas com a mente;

E por isso o Cupido alado Ă© pintado cego.

Nem a mente do amor tem qualquer gosto de julgamento.

Asas, e nenhum olho, figuram a pressa imprudente.

E por isso diz-se que o amor é uma criança,

Porque na escolha ele Ă© tĂŁo frequentemente enganado.

Como rapazes maliciosos em jogo se desmentem,

Assim o menino Amor Ă© perjuro em todo o lado.

Pois, antes que Demétrio olhasse para os olhos de Hermia,

Ele choveu juramentos que ele era sĂł meu;

E quando esta chuva sentiu algum calor de Hermia,

Assim se dissolveu, e chuvas de juramentos derreteram.

Irei contar-lhe a fuga da formosa Hermia.

EntĂŁo para a floresta ele irĂĄ amanhĂŁ Ă  noite

Persegui-la; e por esta informação

Se tiver agradecimentos, Ă© uma despesa cara.

Mas aqui pretendo enriquecer a minha dor,

Ter a sua visĂŁo lĂĄ e de volta.

[Sai Helena.]

CENA II. O Mesmo. Uma Sala numa Cabana

Entram Quince, Snug, Bottom, Flute, Snout e Starveling.

QUINCE.

EstĂĄ toda a nossa companhia aqui?

BOTTOM.

É melhor chamá-los geralmente, um por um, de acordo com a lista.

QUINCE.

Aqui estĂĄ o pergaminho do nome de cada um, que se considera adequado em toda a Atenas, para representar no nosso interlĂșdio perante o Duque e a Duquesa, na noite do seu dia de casamento.

BOTTOM.

Primeiro, bom Peter Quince, diz sobre o que trata a peça; depois lĂȘ os nomes dos actores; e assim chega ao ponto.

QUINCE.

Em verdade, a nossa peça é A mais lamentåvel comédia e a mais cruel morte de

Piramo e Tisbe.

BOTTOM.

Uma muito boa obra, garanto-vos, e alegre. Agora, bom Peter

Quince, chama os teus actores pela lista. Mestres, espalhem-se.

QUINCE.

Respondam, quando eu vos chamar. Nick Bottom, o tecelĂŁo.

BOTTOM.

Pronto. Diz qual Ă© o meu papel, e continua.

QUINCE.

Tu, Nick Bottom, estĂĄs escalado para Piramo.

BOTTOM.

O que Ă© Piramo – um amante, ou um tirano?

QUINCE.

Um amante, que se mata galhardamente por amor.

BOTTOM.

Isso exigirĂĄ algumas lĂĄgrimas na verdadeira interpretação. Se eu o fizer, que o pĂșblico cuide dos seus olhos. Eu moverei tempestades; eu condoarei em alguma medida. Quanto ao resto – ainda assim o meu principal humor Ă© para um tirano. Eu poderia representar HĂ©rcules magnificamente, ou um papel para rasgar um gato, para fazer tudo estourar.

As rochas furiosas

E os abalos trementes

QuebrarĂŁo as fechaduras

Dos portÔes da prisão,

E o carro de FĂ­bo

BrilharĂĄ de longe,

E criarĂĄ e destruirĂĄ

Os destinos tolos.

Isto foi altivo. Agora chama o resto dos actores. Esta é a veia de Hércules, a veia de um tirano; um amante é mais condolente.

QUINCE.

Francis Flute, o lapeiro.

FLUTE.

Aqui, Peter Quince.

QUINCE.

Flute, tu tens de assumir Tisbe.

FLUTE.

O que Ă© Tisbe? Um cavaleiro errante?

QUINCE.

É a dama que Piramo deve amar.

FLUTE.

Não, por fé, não me deixes representar uma mulher. Tenho barba a crescer.

QUINCE.

Isso nĂŁo importa. Tu representarĂĄs com uma mĂĄscara, e podes falar tĂŁo finamente quanto quiseres.

BOTTOM.

E se puder esconder a minha cara, deixa-me representar Tisbe tambĂ©m. Falarei com uma voz monstruosamente pequena; ‘Tisne, Tisne!’ – ‘Ah, Piramo, meu querido amante!

tua querida Tisne! e querida dama!’

QUINCE.

NĂŁo, nĂŁo, tens de representar Piramo; e, Flute, tu Tisbe.

BOTTOM.

Bem, continua.

QUINCE.

Robin Starveling, o alfaiate.

STARVELING.

Aqui, Peter Quince.

QUINCE.

Robin Starveling, tu tens de representar a mĂŁe de Tisbe.

Tom Snout, o latonista.

SNOUT

Aqui, Peter Quince.

QUINCE.

Tu, o pai de Piramo; eu, o pai de Tisbe;

Snug, o marceneiro, tu, o papel do leão. E, espero, aqui estå uma peça adequada.

SNUG

Tens o papel do leĂŁo escrito? Por favor, se tiver, dĂĄ-mo, pois sou lento no estudo.

QUINCE.

Podes fazĂȘ-lo de improviso, pois nĂŁo passa de rugir.

BOTTOM.

Deixa-me representar o leão também. Rugirei tanto que farå bem ao coração de qualquer homem ouvir-me. Rugirei tanto que farei o Duque dizer 'Deixem-no rugir de novo, deixem-no rugir de novo.'

QUINCE.

Se o fizesses demasiado terrivelmente, assustarias a Duquesa e as damas, que gritaria; e isso seria suficiente para nos enforcar a todos.

TODOS

Isso nos enforcaria a cada um de nĂłs.

BOTTOM.

Concedo-vos, amigos, se assustardes as damas até à loucura, elas não terão mais discrição do que nos enforcar. Mas eu vou agravar a minha voz de tal forma, que rugirei tão suavemente quanto um pombo a mamar; rugirei como se fosse uma rouxinol.

QUINCE.

NĂŁo podes representar nenhum papel senĂŁo Piramo, pois Piramo Ă© um homem de rosto doce; um homem bonito como se pode ver num dia de verĂŁo; um homem muito encantador e gentlemanly. Por isso, tens de representar Piramo.

BOTTOM.

Bem, eu assumirei isso. Com que barba Ă© melhor que eu a represente?

QUINCE.

Bem, o que quiseres.

BOTTOM.

Eu executĂĄ-la-ei com a tua barba cor de palha, a tua barba cor de laranja-castanho, a tua barba roxa tingida, ou a tua

barba cor de coroa francesa, o teu amarelo perfeito.

QUINCE.

Algumas das tuas coroas francesas nĂŁo tĂȘm cabelo nenhum, e entĂŁo representarĂĄs de cara descoberta. Mas, mestres, aqui estĂŁo os vossos papĂ©is, e eu tenho de vos suplicar, pedir e desejar que os memorizem atĂ© amanhĂŁ Ă  noite; e encontrem-se comigo na floresta do palĂĄcio, a uma milha da cidade, Ă  luz da lua; lĂĄ ensaiaremos, pois se nos encontrarmos na cidade, seremos perseguidos pela companhia, e os nossos planos conhecidos. Entretanto, farei uma lista de adereços, dos quais a nossa peça precisa. Por favor, nĂŁo me falhem.

BOTTOM.

Encontrar-nos-emos, e lå poderemos ensaiar de forma muito obscena e corajosa. Esforçai-vos, sede perfeitos; adeus.

QUINCE.

Ao carvalho do Duque encontraremos.

BOTTOM.

Suficiente. Seguro, ou corto as cordas do arco.

[Saem.]

ATO II

CENA I. Uma floresta perto de Atenas

Entram uma Fada por uma porta e Puck por outra.

PUCK.

E agora, espĂ­rito! Para onde vagueias?

FADA

Por colina, por vale,

Através de arbusto, através de espinho,

Por parque, por cerca de,

Através de inundação, através de fogo,

Eu vagueio por toda a parte,

Mais rĂĄpido que a esfera da lua;

E eu sirvo a Rainha das Fadas,

Para orvalhar os seus orbes sobre o relvado.

As altivas prĂ­mulas sĂŁo os seus pensionistas,

Nas suas cascas douradas, vĂȘs manchas;

Essas sĂŁo rubis, favores de fadas,

Nessas sardas vivem os seus aromas.

Tenho de ir procurar gotas de orvalho aqui,

E pendurar uma pérola na orelha de cada prímula.

Adeus, seu patife de espĂ­ritos; eu partirei.

Nossa Rainha e todos os seus elfos vĂȘm aqui em breve.

PUCK.

O Rei celebra os seus festejos aqui esta noite;

Toma cuidado para que a Rainha nĂŁo caia na sua vista,

Pois Oberon estĂĄ muito zangado e furioso,

Porque ela, como sua serva, tem

Um menino encantador, roubado a um rei indiano;

Ela nunca teve um substituto tĂŁo doce.

E o ciumento Oberon quer o menino

Cavaleiro do seu séquito, para percorrer as florestas selvagens:

Mas ela retém à força o amado menino,

Coroa-o com flores e faz dele toda a sua alegria.

E agora eles nunca se encontram em bosques ou prados,

Perto de fontes lĂ­mpidas, ou sob o brilho cintilante das estrelas,

Mas eles discutem; para que todos os seus elfos, por medo,

Se encolham em xĂ­caras de bolota e se escondam lĂĄ.

FADA

Ou eu confundo a tua forma e constituição completamente,

Ou então és aquele espírito astuto e malicioso

Chamado Robin Goodfellow. Não és tu

Aquele que assusta as donzelas da aldeia,

Ordenha o leite, e por vezes trabalha na mĂł,

E em vĂŁo faz a dona de casa sem fĂŽlego trabalhar a manteiga,

E por vezes faz a bebida nĂŁo ter espuma,

Desvia os errantes noturnos, rindo do seu infortĂșnio?

Aqueles que te chamam Hobgoblin, e doce Puck,

Tu fazes o trabalho deles, e eles terĂŁo boa sorte.

Não és tu?

PUCK.

Falas com razĂŁo;

Eu sou aquele alegre errante da noite.

Eu zombo de Oberon e fĂĄ-lo sorrir,

Quando eu um cavalo gordo e alimentado a feijĂŁo enganeio,

Relinchando na semelhança de um potro;

E por vezes esconde-me numa tigela de comadre

Na semelhança de uma maçã assada,

E, quando ela bebe, contra os seus lĂĄbios eu dou um toque,

E na sua barbela enrugada derramo a cerveja.

A tia mais sĂĄbia, contando a histĂłria mais triste,

Por vezes confunde-me com um banquinho de trĂȘs pernas;

EntĂŁo escorrego da sua bunda, ela cai de costas,

E grita 'alfaiate' e cai numa tosse;

E entĂŁo todo o coro segura as suas ancas e ri

E cresce na sua alegria, e espirra, e jura

Que uma hora mais alegre nunca ali se desperdiçou.

Mas espaço, fada. Aqui vem Oberon.

FADA

E aqui a minha senhora. Que ele se fosse!

Entram Oberon por uma porta, com o seu séquito, e Titùnia por outra, com o seu.

OBERON.

Mal encontrados Ă  luz da lua, orgulhosa TitĂąnia.

TITÂNIA.

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