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Como Gostais

por William Shakespeare

Capítulo 1 — Parte 1

ATO I

CENA I. Um Pomar perto da casa de Oliver

Entram Orlando e Adam.

— Segundo me lembro, Adam, foi desta maneira que me foram legadas em testamento apenas mil coroas, e, como dizes, incumbiu meu irmão, com sua bênção, de me criar dignamente; e é aí que minha tristeza principia. Meu irmão Jaques, ele o mantém na escola, e os relatos falam com louvor de seu progresso. Quanto a mim, ele me mantém rusticamente em casa, ou, para falar com mais propriedade, me retém em casa, descuidado; pois chamas isso de sustento, para um cavalheiro de meu nascimento, que não difere do aprisco de um boi? Seus cavalos são criados melhor; pois, além de serem belos com sua alimentação, são ensinados a se comportar, e, para isso, cavaleiros são caramente contratados; mas eu, seu irmão, não obtenho nada debaixo dele senão crescimento, pelo qual seus animais, em seus esterqueiros, lhe são tão gratos quanto eu. Além deste nada que ele tão fartamente me concede, o pouco que a natureza me deu, sua presença parece subtrair de mim. Ele me faz comer com seus criados, proíbe-me o lugar de irmão, e, tanto quanto nele reside, aniquila minha fidalguia através de minha educação. É isso, Adam, que me aflige, e o espírito de meu pai, que creio residir em mim, começa a se amotinar contra esta servidão. Não mais a suportarei, embora ainda não vislumbre um remédio sensato para evitá-la.

Entra Oliver.

ADAM.

— Lá vem meu mestre, teu irmão.

ORLANDO.

— Afasta-te, Adam, e hás de ouvir como ele me repreenderá.

[Adam se afasta.]

OLIVER.

— Ora, senhor, que fazeis aqui?

ORLANDO.

— Nada. Não me ensinaram a fazer nada.

OLIVER.

— O que estragais então, senhor?

ORLANDO.

— Ora, senhor, estou ajudando-vos a estragar o que Deus fez: um pobre e indigno irmão vosso, com a ociosidade.

OLIVER.

— Ora, senhor, ocupai-vos melhor, e não sejais nada por um tempo.

ORLANDO.

— Devo guardar vossos porcos e comer cascas com eles? Que porção pródiga gastei para chegar a tal penúria?

OLIVER.

— Sabeis onde estais, senhor?

ORLANDO.

— Oh, senhor, muito bem: aqui em vosso pomar.

OLIVER.

— Sabeis diante de quem, senhor?

ORLANDO.

— Sim, melhor do que aquele diante de quem estou me conhece. Sei que sois meu irmão mais velho, e, na nobre condição do sangue, deveríeis assim me conhecer. A cortesia das nações permite-vos serdes meu superior por serdes o primogênito, mas a mesma tradição não me tira o sangue, ainda que houvesse vinte irmãos entre nós. Tenho tanto de meu pai em mim quanto vós, embora eu confesse que vossa vinda antes de mim está mais próxima de sua reverência.

OLIVER.

— Quê, rapaz!

ORLANDO.

— Vinde, vinde, irmão mais velho, sois muito jovem nisto.

OLIVER.

— Podeis pôr as mãos em mim, vilão?

ORLANDO.

— Não sou vilão. Sou o filho mais novo de Sir Rowland de Boys; ele foi meu pai, e é três vezes vilão quem diz que tal pai gerou vilões. Se não fôsseis meu irmão, não tiraria esta mão de vossa garganta até que esta outra tivesse arrancado vossa língua por dizerdes isso. Vós vos tendes caluniado a vós mesmo.

ADAM.

[Avançando.] — Meus doces mestres, sede pacientes. Pela memória de vosso pai, estai em acordo.

OLIVER.

— Deixai-me ir, digo eu.

ORLANDO.

— Não o farei até que me apraza. Vós me ouvireis. Meu pai vos incumbiu em seu testamento de me dar boa educação. Vós me treinastes como um camponês, obscurecendo e escondendo de mim todas as qualidades de cavalheiro. O espírito de meu pai cresce forte em mim, e não mais o suportarei. Portanto, permiti-me tais exercícios que se adequem a um cavalheiro, ou dai-me a pobre herança que meu pai me deixou por testamento; com isso irei comprar minhas fortunas.

OLIVER.

— E o que fareis? Mendigareis quando isso se esgotar? Bem, senhor, entrai. Não serei por muito tempo incomodado convosco. Tereis alguma parte de vossa vontade. Por favor, deixai-me.

ORLANDO.

— Não vos ofendo mais do que convém para meu próprio bem.

OLIVER.

— Ide com ele, velho cão.

ADAM.

— Velho cão é minha recompensa? É verdade, perdi meus dentes em vosso serviço. Deus esteja com meu velho mestre. Ele não teria dito tal palavra.

[Saem Orlando e Adam.]

OLIVER.

— É mesmo assim? Começais a crescer sobre mim? Tratarei vossa arrogância, e ainda assim não darei mil coroas. Olá, Dennis!

Entra Dennis.

DENNIS.

— Vossa mercê chama?

OLIVER.

— Charles, o lutador do Duque, não esteve aqui para falar comigo?

DENNIS.

— Se vos apraz, ele está aqui à porta e importuna acesso a vós.

OLIVER.

— Chamai-o para dentro.

[Sai Dennis.] — Será um bom meio, e amanhã será a luta.

Entra Charles.

CHARLES.

— Bom dia a vossa mercê.

OLIVER.

— Bom Monsieur Charles. Quais são as novas notícias na nova corte?

CHARLES.

— Não há notícias na corte, senhor, senão as velhas. Ou seja, o velho Duque foi banido por seu irmão mais novo, o novo Duque, e três ou quatro lordes leais exilaram-se voluntariamente com ele, cujas terras e rendimentos enriquecem o novo Duque; por isso ele lhes dá boa licença para vaguear.

OLIVER.

— Podeis dizer se Rosalinda, a filha do Duque, foi banida com seu pai?

CHARLES.

— Oh, não; pois a filha do Duque, sua prima, a ama tanto, tendo sido criadas juntas desde os berços, que ela teria seguido seu exílio ou teria morrido para ficar para trás. Ela está na corte e não menos amada por seu tio do que sua própria filha, e nunca duas damas se amaram como elas.

OLIVER.

— Onde viverá o velho Duque?

CHARLES.

— Dizem que ele já está na Floresta de Arden, e muitos homens alegres com ele; e lá eles vivem como o velho Robin Hood da Inglaterra. Dizem que muitos jovens cavalheiros afluem a ele todos os dias e passam o tempo despreocupadamente, como faziam na idade de ouro.

OLIVER.

— Quê, lutais amanhã diante do novo Duque?

CHARLES.

— Sim, senhor, e vim para vos informar de um assunto. Foi-me dado a entender, senhor, secretamente, que vosso irmão mais novo, Orlando, tem a intenção de vir disfarçado contra mim para tentar uma queda. Amanhã, senhor, lutarei por minha reputação, e aquele que me escapar sem algum membro quebrado se sairá bem. Vosso irmão é jovem e tenro, e, por vosso amor, eu relutaria em derrotá-lo, como devo fazer por minha própria honra se ele vier. Portanto, por meu amor a vós, vim aqui para vos informar, para que possais detê-lo de sua intenção, ou suportardes bem a desgraça em que ele incorrerá, pois é algo de sua própria busca e inteiramente contra minha vontade.

OLIVER.

— Charles, agradeço-vos por vosso amor a mim, que encontrareis recompensado com a maior gentileza. Eu mesmo tive notícia do propósito de meu irmão nisto, e por meios sub-reptícios trabalhei para dissuadi-lo; mas ele é resoluto. Dir-vos-ei, Charles, ele é o jovem mais teimoso da França, cheio de ambição, um emulador invejoso das boas qualidades de todos, um conspirador secreto e vil contra mim, seu irmão de sangue. Portanto, usai vosso discernimento. Eu preferiria que lhe partísseis o pescoço a um dedo. E o melhor é que vós tomeis cuidado; pois se lhe fizerdes alguma ligeira desgraça, ou se ele não se agraciar poderosamente sobre vós, ele conspirará contra vós com veneno, vos armará armadilhas com algum ardil traiçoeiro, e nunca vos deixará até que vos tenha tirado a vida por algum meio indireto ou outro. Pois eu vos asseguro (e quase com lágrimas o digo) não há um tão jovem e tão vil vivendo hoje. Falo dele apenas como irmão, mas se eu o anatomizasse a vós como ele é, eu teria que corar e chorar, e vós teríeis que empalidecer e maravilhar-vos.

CHARLES.

— Estou sinceramente feliz por ter vindo aqui. Se ele vier amanhã, dar-lhe-ei seu pagamento. Se ele alguma vez andar sozinho novamente, nunca mais lutarei por prêmio. E assim, Deus vos guarde, vossa mercê.

[Sai.]

OLIVER.

— Adeus, bom Charles. Agora irei instigar este apostador. Espero que eu veja o fim dele; pois minha alma — ainda não sei por que — não odeia nada mais do que ele. Contudo, ele é nobre, nunca escolarizado e ainda assim instruído, cheio de nobres artifícios, de todas as formas encantadoramente amado, e de fato tão no coração do mundo, e especialmente de meu próprio povo, que o conhece melhor, que sou completamente desprezado. Mas não será assim por muito tempo; este lutador resolverá tudo. Nada resta senão que eu incite o rapaz para lá, o que agora farei.

[Sai.]

CENA II. Um Gramado em frente ao Palácio do Duque

Entram Rosalinda e Célia.

CÉLIA.

— Rogo-te, Rosalinda, minha doce prima, sê alegre.

ROSALINDA.

— Cara Célia, mostro mais alegria do que sou senhora, e ainda assim gostarias que eu estivesse mais alegre? A menos que possas ensinar-me a esquecer um pai banido, não deves ensinar-me a lembrar-me de qualquer prazer extraordinário.

CÉLIA.

— Nisto vejo que não me amas com o peso total com que te amo. Se meu tio, teu pai banido, tivesse banido teu tio, o Duque, meu pai, para que ainda estivesses comigo, eu poderia ter ensinado meu amor a tomar teu pai como meu. Assim farias tu, se a verdade de teu amor por mim fosse tão retamente temperada quanto o meu por ti.

ROSALINDA.

— Bem, esquecerei a condição de meu estado para me regozijar no teu.

CÉLIA.

— Sabes que meu pai não tem filho senão eu, nem é provável que venha a ter; e, verdadeiramente, quando ele morrer, tu serás sua herdeira, pois o que ele tirou de teu pai à força, eu te restituirei em afeição. Pela minha honra o farei! E quando eu quebrar esse juramento, que me transforme em monstro. Portanto, minha doce Rosa, minha cara Rosa, sê alegre.

ROSALINDA.

— De agora em diante o farei, prima, e inventarei passatempos. Deixa-me ver: o que pensas em apaixonar-te?

CÉLIA.

— Ora, rogo-te que o faças, para divertir-te; mas não ames nenhum homem a sério, nem por esporte mais do que com a segurança de um rubor puro possas sair com honra novamente.

ROSALINDA.

— Qual será então nosso passatempo?

CÉLIA.

— Sentemo-nos e zombemos da boa Senhora Fortuna e de sua roda, para que suas dádivas sejam daí em diante distribuídas igualmente.

ROSALINDA.

— Quem dera pudéssemos fazê-lo, pois seus benefícios estão muito mal colocados, e a generosa mulher cega mais erra em seus dons às mulheres.

CÉLIA.

— É verdade, pois aquelas que ela faz belas, mal as faz honestas; e aquelas que ela faz honestas, ela as faz muito mal-encaradas.

ROSALINDA.

— Não, agora tu passas do ofício da Fortuna para o da Natureza. A Fortuna reina nos dons do mundo, não nos lineamentos da Natureza.

Entra Touchstone.

CÉLIA.

— Não? Quando a Natureza criou uma criatura bela, não pode ela pela Fortuna cair no fogo? Embora a Natureza nos tenha dado inteligência para zombar da Fortuna, não enviou a Fortuna este bobo para cortar o argumento?

ROSALINDA.

— De fato, há a Fortuna demasiado dura para a Natureza, quando a Fortuna faz o natural da Natureza o cortador da inteligência da Natureza.

CÉLIA.

— Talvez este não seja trabalho da Fortuna também, mas da Natureza, que percebe nossa inteligência natural demasiado obtusa para raciocinar sobre tais deusas, e enviou este natural como nossa pedra de amolar; pois a obtusidade do bobo é sempre a pedra de amolar dos inteligentes. — E então, inteligência, para onde vagueias?

TOUCHSTONE.

— Senhora, deveis ir com vosso pai.

CÉLIA.

— Fostes feito o mensageiro?

TOUCHSTONE.

— Não, pela minha honra, mas fui mandado vir por vós.

ROSALINDA.

— Onde aprendeste esse juramento, bobo?

TOUCHSTONE.

— De um certo cavaleiro que jurou por sua honra que eram boas panquecas, e jurou por sua honra que a mostarda era ruim. Agora, eu sustentarei que as panquecas eram ruins e a mostarda era boa, e ainda assim o cavaleiro não perjurou.

CÉLIA.

— Como provas isso na grande pilha de teu conhecimento?

ROSALINDA.

— Ah, ora, agora desata a tua sabedoria.

TOUCHSTONE.

— Ficai vós ambos à frente agora: acariciai vossos queixos e jurai pelas vossas barbas que sou um patife.

CÉLIA.

— Pelas nossas barbas, se as tivéssemos, tu és.

TOUCHSTONE.

— Pela minha patifaria, se a tivesse, então eu seria. Mas se jurais por aquilo que não é, não sois perjuros. Nem este cavaleiro, jurando por sua honra, pois ele nunca a teve; ou se a teve, já a havia jurado antes mesmo de ver essas panquecas ou aquela mostarda.

CÉLIA.

— Rogo-te, a quem te referes?

TOUCHSTONE.

— A um que o velho Frederick, vosso pai, ama.

CÉLIA.

— O amor de meu pai é suficiente para honrá-lo. Basta! Não fales mais dele. Serás chicoteado por insolência um destes dias.

TOUCHSTONE.

— Que pena que os tolos não possam falar sabiamente o que os sábios fazem tolamente.

CÉLIA.

— Pela minha fé, dizes a verdade. Pois desde que o pouco de inteligência que os tolos têm foi silenciado, a pouca tolice que os homens sábios têm faz grande alarde. Aqui vem Monsieur Le Beau.

Entra Le Beau.

ROSALINDA.

— Com a boca cheia de notícias.

CÉLIA.

— Que ele nos dará como pombos alimentam seus filhotes.

ROSALINDA.

— Então estaremos repletas de notícias.

CÉLIA.

— Melhor ainda; seremos mais valiosas no mercado. Bonjour, Monsieur Le Beau. Quais as novidades?

LE BEAU.

— Bela princesa, perdestes muito bom divertimento.

CÉLIA.

— Divertimento! De que cor?

LE BEAU.

— Que cor, senhora? Como vos responderei?

ROSALINDA.

— Conforme a inteligência e a fortuna quiserem.

TOUCHSTONE.

— Ou conforme os destinos decretarem.

CÉLIA.

— Bem dito. Isso foi feito às claras demais.

TOUCHSTONE.

— Ora, se não mantiver meu posto—

ROSALINDA.

— Perdes teu velho cheiro.

LE BEAU.

— Senhoras, me surpreendeis. Eu vos teria contado sobre a boa luta, que perdestes de vista.

ROSALINDA.

— Ainda assim, contai-nos o modo da luta.

LE BEAU.

— Contar-vos-ei o começo e, se aprouver a vossas senhorias, podereis ver o fim, pois o melhor ainda está por vir; e aqui, onde estais, eles estão vindo para executá-lo.

CÉLIA.

— Bem, o começo está morto e enterrado.

LE BEAU.

— Vêm um velho e seus três filhos—

CÉLIA.

— Eu poderia combinar este começo com um velho conto.

LE BEAU.

— Três jovens bem-apessoados de excelente porte e presença.

ROSALINDA.

— Com avisos no pescoço: Que por estes presentes seja conhecido a todos os homens.

LE BEAU.

— O mais velho dos três lutou com Charles, o lutador do Duque, que Charles, em um momento, o derrubou e quebrou três de suas costelas, de modo que há pouca esperança de vida nele. Assim serviu o segundo, e assim o terceiro. Lá jazem eles, o pobre velho pai deles fazendo tal lamento lastimável sobre eles que todos os espectadores tomam seu partido com choro.

ROSALINDA.

— Ai de mim!

TOUCHSTONE.

— Mas qual é o esporte, Monsieur, que as damas perderam?

LE BEAU.

— Ora, este de que falo.

TOUCHSTONE.

— Assim os homens podem ficar mais sábios a cada dia. É a primeira vez que ouço dizer que quebrar costelas era esporte para damas.

CÉLIA.

— Ou eu, prometo-te.

ROSALINDA.

— Mas há mais alguém que anseia por ver esta música quebrada em seus flancos? Há ainda outro que se deleita em quebrar costelas? Veremos esta luta, prima?

LE BEAU.

— Deveis, se ficardes aqui, pois aqui é o lugar designado para a luta, e eles estão prontos para realizá-la.

CÉLIA.

— Lá, com certeza, eles estão chegando. Fiquemos agora e vejamos.

Fanfarra. Entram Duque Frederick, Lordes, Orlando, Charles e Acompanhantes.

DUQUE FREDERICK.

— Ide em frente. Já que o jovem não será persuadido, que seu próprio perigo recaia sobre sua audácia.

ROSALINDA.

— É aquele o homem?

LE BEAU.

— Ele mesmo, senhora.

CÉLIA.

— Ai, ele é muito jovem. Contudo, parece bem-sucedido.

DUQUE FREDERICK.

— E então, filha e prima? Viestes rastejando até aqui para ver a luta?

ROSALINDA.

— Sim, majestade, se nos apraz dar licença.

DUQUE FREDERICK.

— Tereis pouco prazer nisto, posso dizer-vos, há tamanha desvantagem no homem. Por piedade da juventude do desafiante, eu o dissuadiria de bom grado, mas ele não será persuadido. Falai com ele, senhoras; vede se podeis movê-lo.

CÉLIA.

— Chamai-o aqui, bom Monsieur Le Beau.

DUQUE FREDERICK.

— Fazei-o; não estarei por perto.

[O Duque Frederick se afasta.]

LE BEAU.

— Monsieur, o desafiante, a Princesa vos chama.

ORLANDO.

— Eu as atendo com todo respeito e dever.

ROSALINDA.

— Jovem, desafiastes Charles, o lutador?

ORLANDO.

— Não, bela princesa. Ele é o desafiante geral. Eu venho apenas como os outros, para experimentar com ele a força de minha juventude.

CÉLIA.

— Jovem cavalheiro, vossos ânimos são demasiado ousados para vossa idade. Vistes provas cruéis da força deste homem. Se vos vísseis com vossos olhos ou vos conhecêsseis com vosso julgamento, o medo de vossa aventura vos aconselharia a uma empresa mais igual. Rogamos-vos por vosso próprio bem que abraceis vossa própria segurança e desistais desta tentativa.

ROSALINDA.

— Fazei-o, jovem senhor. Vossa reputação não será por isso desprezada. Faremos nosso pedido ao Duque para que a luta não prossiga.

ORLANDO.

— Suplico-vos, não me castigueis com vossos duros pensamentos, pelos quais confesso-me muito culpado por negar algo a damas tão belas e excelentes. Mas que vossos belos olhos e gentis desejos me acompanhem em minha prova, na qual, se eu for derrotado, apenas um será envergonhado, que nunca foi agraciado; se morto, apenas um estará morto que está disposto a sê-lo. Não farei mal algum aos meus amigos, pois não tenho quem me lamente; ao mundo, nenhuma injúria, pois nele não tenho nada. Apenas no mundo preencho um lugar, que poderá ser melhor preenchido quando eu o tiver esvaziado.

ROSALINDA.

— A pouca força que tenho, quem dera estivesse convosco.

CÉLIA.

— E a minha para somar à dela.

ROSALINDA.

— Ficai bem. Rogo ao céu que eu esteja enganada a vosso respeito.

CÉLIA.

— Que os desejos de vosso coração estejam convosco.

CHARLES.

— Vem, onde está este jovem galante que tanto deseja deitar-se com sua mãe terra?

ORLANDO.

— Pronto, senhor; mas sua vontade tem um funcionamento mais modesto.

DUQUE FREDERICK.

— Tentareis apenas uma queda.

CHARLES.

— Não, garanto a vossa graça que não o suplicareis por uma segunda, vós que tão poderosamente o persuadistes da primeira.

ORLANDO.

— Quereis zombar de mim depois; não deveríeis ter zombado de mim antes. Mas vinde cá.

ROSALINDA.

— Que Hércules vos ajude, jovem!

CÉLIA.

— Quem dera eu fosse invisível, para agarrar o forte pela perna.

[Orlando e Charles lutam.]

ROSALINDA.

— Ó excelente jovem!

CÉLIA.

— Se eu tivesse um raio no olho, sei quem cairia.

[Charles Ă© derrubado. Gritos.]

DUQUE FREDERICK.

— Chega, chega.

ORLANDO.

— Sim, suplico a vossa graça. Ainda não recuperei o fôlego.

DUQUE FREDERICK.

— Como estais, Charles?

LE BEAU.

— Ele não pode falar, meu senhor.

DUQUE FREDERICK.

— Levai-o.

[Charles Ă© levado por Acompanhantes.]

DUQUE FREDERICK.

— Qual é vosso nome, jovem?

ORLANDO.

— Orlando, majestade, o filho mais novo de Sir Rowland de Boys.

DUQUE FREDERICK.

— Quem dera fôsseis filho de outro homem.

O mundo estimava vosso pai como honrável,

Mas eu o encontrei sempre como meu inimigo.

VĂłs me terĂ­eis agradado mais com este feito

Se tivésseis descendido de outra casa.

Mas adeus, sois um jovem galante.

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