Capítulo 1
CAPÍTULO
I. HANS COM SORTE
Dos Contos de Fadas dos Irmãos Grimm.
II. POR QUE O MAR É SALGADO
De "Contos Populares Nórdicos", de Sir George Webbe Dasent, D.C.L.
III. O RAPAZ QUE FOI AO VENTO NORTE
De "Contos Populares Nórdicos", de Sir George Webbe Dasent, D.C.L.
IV. O RAPAZ E O DIABO
De "Contos Populares Nórdicos", de Sir George Webbe Dasent, D.C.L.
V. ANANZI E O LEÃO
De "Contos Populares Nórdicos", de Sir George Webbe Dasent, D.C.L.
VI. AS RAPOSAS AGRADECIDAS
De "Contos do Velho Japão", de A.B. Mitford.
VII. O DINHEIRO DO TEXUGO
De "Contos do Velho Japão", de A.B. Mitford.
VIII. POR QUE O IRMÃO URSO NÃO TEM RABO
De "Noites com o Tio Remus", de Joel Chandler Harris.
IX. A ORIGEM DOS RUBIS
De "Contos Populares de Bengala", do Rev. Lal Behari Day.
X. LONGO, LARGO E VISÃO AGUÇADA
Traduzido do Boêmio por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XI. INTELIGÊNCIA E SORTE
Traduzido do Boêmio por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XII. GEORGE COM A CABRA
Traduzido do Boêmio por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XIII. O CABELO MARAVILHOSO
Traduzido do Sérvio por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XIV. O DRAGÃO E O PRÍNCIPE
Traduzido do Sérvio por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XV. AS BOAS CRIANÇAS
Uma pequena história russa da Galícia. Traduzido por A.H. Wratislaw, M.A., em "Sessenta Contos Populares, de Fontes Exclusivamente Eslavas."
XVI. O CAVALO BAIO
De "Histórias de Heróis e Contos Populares Pawnee", de George Bird Grinnell.
XVII. O JOVEM GANANCIOSO
Do conto norueguês de Peter Christen Asbjörnsen.
XVIII. HANS, QUE FEZ A PRINCESA RIR
Do conto norueguês de Peter Christen Asbjörnsen.
XIX. A HISTÓRIA DE TOM TIT TOT
Um antigo conto de Suffolk, apresentado no dialeto da Ânglia Oriental. De "Tom Tit Tot. Um Ensaio sobre Filosofia Selvagem no Conto Popular", de Edward Clodd.
XX. A HISTÓRIA DO CAMPONÊS SOBRE NAPOLEÃO
De "O Doutor Rural", de Honoré de Balzac. Traduzido por Katharine Prescott Wormeley.
INTRODUÇÃO
Quando o viajante olha para Roma pela primeira vez, não se apercebe de que existiram várias cidades no mesmo pedaço de chão, e que as igrejas, palácios e outros grandes edifícios que hoje vê repousam sobre uma cidade anterior e invisível, enterrada em pó sob os alicerces da Roma do século XX. Da mesma forma, e porque tudo o que é visível à superfície da Terra surgiu de coisas mais antigas que deixaram de existir, o mundo de hábitos, ideias, costumes, fantasias e artes em que vivemos é uma sobrevivência de um mundo mais jovem que há muito desapareceu. Quando nos referimos à sexta-feira como dia de azar, ou batemos na madeira depois de dizer que tivemos boa sorte por um longo tempo, ou nos damos ao trabalho de olhar para a lua nova por cima do ombro direito, ou evitamos atravessar a rua enquanto um funeral passa, estamos recordando antigas superstições ou crenças, um mundo desaparecido em que viveram os nossos ancestrais remotos.
Não nos apercebemos do quanto deste mundo desaparecido ainda sobrevive na nossa língua, na nossa fala, nos nossos livros, na nossa escultura e nas nossas pinturas. As peças de Shakespeare estão repletas de referências às fantasias e crenças do povo inglês no seu tempo ou em épocas não muito anteriores a ele. Se pudéssemos compreender todas essas referências na leitura, daríamos connosco num mundo tão diferente da Inglaterra de hoje quanto a Inglaterra o é da Áustria, e entre um povo cujas ideias e linguagem nos seriam difíceis de compreender.
Naqueles primeiros dias não havia revistas nem jornais, e, para o povo, em contraste com os estudiosos, não havia livros. Os homens mais instruídos ignoravam coisas que hoje crianças inteligentes conhecem; muito poucos homens e mulheres sabiam ler ou escrever; e todo o tipo de crenças sobre animais, pássaros, bruxas, fadas, gigantes e as qualidades mágicas de ervas e pedras florescia como ervas daninhas num jardim negligenciado. Surgiu uma imensa massa de desinformação sobre todo o tipo de coisas; algumas bastante estúpidas, muitas poéticas e interessantes. Abaixo da região do conhecimento exato acessível aos homens instruídos, jazia uma região de fantasias populares, ideias, provérbios e superstições onde vivia a grande massa de homens e mulheres, e que funcionava como uma espécie de parque infantil invisível para as crianças. Grande parte da crença popular sobre os animais e o mundo era permeada pela imaginação e estava repleta de sugestões, ilustrações e figuras pictóricas que os poetas utilizavam prontamente. Quando o rei diz a Cranmer em "Henrique VIII": — Vamos, vamos, meu senhor, poupe as suas colheres. —, ele estava a pensar no antigo costume de dar, em batizados, às crianças colheres de prata ou douradas com cabos moldados para representar as figuras dos Apóstolos. Pessoas ricas davam doze das chamadas "colheres dos apóstolos"; pessoas de meios mais modestos davam três ou quatro, ou apenas uma com a figura do santo em homenagem ao qual a criança foi nomeada. No Dia do Lorde Prefeito em Londres, que se celebrava em novembro e ainda é comemorado, embora despojado de grande parte do seu antigo esplendor, o bobo do Lorde Prefeito, como parte das festividades, saltava para dentro de uma grande tigela de creme, e foi isso que Ben Jonson tinha em mente quando escreveu: "Ele pode, talvez, no final do jantar de um xerife, / Pular com uma rima na mesa, do quase nada, / E dar o seu salto alemão num creme, / Fazer a minha senhora Maydress e as suas irmãs, / Rirem todos os seus capuzes sobre os ombros."
Acreditava-se amplamente, outrora, que uma pedra de qualidades mágicas e medicinais estivesse incrustada na cabeça do sapo, e assim Shakespeare escreveu: "Doces são os usos da adversidade; / Que, como o sapo, feio e venenoso, / Usa, contudo, uma joia preciosa na cabeça." O "Sonho de Uma Noite de Verão" é a mais maravilhosa história de fadas do mundo, mas Shakespeare não a criou do nada; ele encontrou o elemento das fadas nas tradições do povo do campo. Um dos seus mais inteligentes estudiosos afirma: "Ele fundou o seu mundo élfico nas mais belas tradições do povo, e o vestiu com a flor sempre viva da sua própria imaginação exuberante."
Essa imensa massa de crenças, superstições e fantasias é denominada folclore e pode ser encontrada em todas as partes do mundo. Essas fantasias, crenças ou superstições eram frequentemente entrelaçadas em histórias, e, lado a lado com o folclore, surgiram os contos populares, em tal profusão que um homem poderia passar a vida inteira a escrevê-los. Não eram concebidos como as histórias modernas frequentemente o são, por homens que pensam cuidadosamente no que vão dizer, que arranjam as diferentes partes para que se encaixem como as de uma casa ou de uma máquina, e que as escrevem com uma cuidadosa seleção de palavras para tornar a história vívida e interessante.
Os contos populares não eram registados por escrito; muitos deles surgiram de incidentes singulares ou de pequenas invenções da imaginação, e tornavam-se mais longos e mais desenvolvidos à medida que passavam de um contador de histórias para outro e eram recontados geração após geração.
Os homens amam histórias, e por muito boas razões, como se apontou nas introduções a outros volumes desta série; e quanto mais rápida e original a imaginação de uma raça, mais interessantes e variadas serão as suas histórias. Desde os tempos mais remotos, muito antes de se fazerem livros, as pessoas de muitos países escutavam avidamente os homens e mulheres que sabiam contar contos emocionantes ou humorísticos, assim como, nos dias de hoje, leem os romances dos escritores que sabem contar uma história de forma a despertar a imaginação ou prender a atenção e fazer com que os leitores se esqueçam de si próprios e das suas preocupações e problemas. Na Índia e no Japão, na Rússia e na Roménia, entre os índios aos pés das Montanhas Rochosas, essas histórias ainda são contadas, não apenas a crianças pelas suas mães e avós, mas a multidões de adultos por aqueles que possuem a arte de tornar os contos divertidos; e ainda circulam tantas dessas histórias pelo mundo, de pessoa para pessoa, que, se fossem escritas, preencheriam uma grande biblioteca. "Até a geração que recentemente se foi," diz o Sr. Gosse na sua introdução àquele interessantíssimo livro, "Os Contos Populares e de Fadas" de Asbjörnsen, "quase o único modo pelo qual o camponês norueguês passava o tempo nos momentos de lazer entre o seu trabalho diário e as suas observâncias religiosas, era escutando histórias. Era tarefa de homens e mulheres idosos que haviam atingido o limite extremo das suas horas de trabalho, reter e repetir essas antigas lendas em prosa e verso, e recitá-las ou cantá-las quando solicitado." E a Srta. Hapgood disse-nos que na Rússia essas histórias não só foram transmitidas inteiramente de boca em boca durante mil anos, mas estão a florescer hoje e a estender-se a novos campos.
As histórias criadas pelo povo, e contadas à volta de fogueiras noturnas, ou em locais públicos e à porta de estalagens no Oriente, pertencem às eras em que os livros eram escassos e o conhecimento limitado, ou a pessoas cuja imaginação não era tolhida pela familiaridade ou pela preocupação com os factos; são as criações, e o divertimento, de homens e mulheres que eram de uma ingenuidade infantil no que toca ao conhecimento, mas pensavam profundamente e muitas vezes sabiamente sobre o que a vida significava para eles, e estavam ansiosos por saber e ouvir mais sobre si próprios, os seus semelhantes e o mundo. Nas histórias populares mais antigas, encontra-se uma simplicidade infantil e uma prontidão em crer no maravilhoso; e essas qualidades encontram-se também na versão do camponês francês sobre a carreira de Napoleão.
HAMILTON W. MABIE
CONTOS POPULARES QUE TODA CRIANÇA DEVE CONHECER