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Pais e Filhos

por Ivan Sergueievitch Turgueniev

Capítulo 1

1921

INTRODUÇÃO

Neste romance magistral, e de cunho anti-romântico, Turguêniev delineou um personagem, Bazarov, que serviu para expressar o que nos ensinou a chamar de Niilismo, transformando um movimento em um homem. Na própria Rússia, o efeito do romance foi profundo. O retrato de Bazarov foi imediata e irritantemente rejeitado como uma fria caricatura. Os retratos dos "homens do interior", ou aristocratas aposentados, não tiveram melhor sorte. Turguêniev, de fato, despertou a ira de ambos os lados.

Os Petrovitch, figuras típicas da nobreza russa tal como as concebeu, pretendiam, confessou Turguêniev, exalar "fraqueza, despreocupação, estreiteza de espírito". Seu senso de propriedade o levou a pintar com extremo cuidado esses representantes escolhidos de sua classe. Eles eram a nata, e se eram humanamente ineficazes, o que dizer de sua espécie mais fraca? "Si la crême est mauvaise, que sera le lait?", como ele próprio expressou. A crítica mais amarga, no entanto, veio do lado dos revolucionários e inconformados. Eles perceberam em Turguêniev a arte mais perspicaz e uma ironia sutil, como se ele as tivesse empregado apenas no tratamento do caso específico de Bazarov; quando, na verdade, eram efeitos temperamentais de sua arte narrativa. Ele estava disposto a se posicionar como um dos partidários da juventude. Estava em sintonia com Bazarov, declarou Turguêniev, em quase todas as suas ideias, sendo a principal exceção as ideias de Bazarov sobre arte, que, na verdade, são apresentadas de forma mais grosseira do que as demais opiniões destrutivas desse iconoclasta. "Bazarov", disse ele repetidamente, "era seu filho favorito".

Faz quase quarenta anos (em 1921) desde o aparecimento do romance n'O Mensageiro Russo, um semanário que era o reconhecido expoente do novo movimento. Esse longo período de tempo deu um tom mais suave aos traços das personagens, tal como o tempo patina as telas dos quadros numa antiga galeria de casa de campo. Mas o interessante é descobrir que a história em larga escala confirmou, de forma terrível e irresistível, a pequena história que Turguêniev delineou com um instinto seguro, nas suas antecipações da saga vindoura.

Estaríamos, contudo, errados se confundíssemos suas realidades claras e penetrantes com as de um romance-panfleto, ou um documento de uma geração específica. É, como seu título declara, em certo sentido, outra fábula do inevitável confronto e recuo das duas gerações. O poder empático de Turguêniev é demonstrado em sua compreensão instintiva de ambos. Aristocrata por formação, ele foi salvo, como Tolstói, de esterilizar seus poderes imaginativos e dramáticos por um senso de casta e privilégio. Ele amava o jogo da natureza humana, sabia lidar com suas fraquezas, seu orgulho, preconceitos arraigados e todas as suscetibilidades trágicas e cômicas. Assim, ele delineou Bazarov como um protagonista da revolta contra a velha ordem e o conservadorismo da idade. Quando Bazarov entra na casa do pai de Arcádio, ele é como Dom Quixote a entrar na estalagem de sua mais severa provação. Se o paralelo parece um tanto fantástico, foi, no entanto, um que Turguêniev teria aceitado, já que ele afirmava que o próprio Dom Quixote era, em sua extravagância inimitável, um tipo do espírito eterno da revolução. E gostaríamos, se houvesse espaço para isso, de imprimir como preâmbulo a *Pais e Filhos* o ensaio em que Turguêniev comparou os mais profundos elementos essenciais de Hamlet e Quixote.

Devemos nos contentar, em vez disso, em recordar a gênese do romance, tal como consta em seu próprio registro. O presente escritor, há alguns anos, passou uma primavera em Ventnor, na Ilha de Wight, e descobriu que a casa à beira-mar em que se hospedara havia sido ocupada por Turguêniev em determinada época. Foi então e lá, em 1860 e em Ventnor, que ele teve a primeira ideia deste romance; e é pouco fantasioso pensar que imaginou o ambiente doméstico e a vasta paisagem das províncias russas com mais carinho e liberdade, por se encontrar a uma longa distância delas, naquele pequeno e confinado recanto costeiro de Ventnor. Já, é importante lembrar, a libertação dos servos havia ocorrido; e o fermento de ideias liberais atuava na nova geração. Ao olharmos para trás, vemos em nossa sabedoria *a posteriori*, tendo compreendido Turguêniev como o romancista que ele era – um artista que estava sempre equilibrando o efêmero e o permanente na arte –, que era inevitável que ele escrevesse este livro, esta tragicomédia da idade e da juventude, da velha ordem e da nova: os pais conservadores e os filhos revolucionários.

E. R.

A seguir, a lista das principais obras de Turguêniev:

TRADUÇÕES INGLESAS DE OBRAS: *Russian Life in the Interior: or, the Experiences of a Sportsman*, do francês, por J. D. Meiklejohn, 1855; *Annals of a Sportsman*, do francês, por F. P. Abbott, 1855; *Tales from the Notebook of a Sportsman*, do russo, por E. Richter, 1895; *Fathers and Sons*, do russo, por E. Schuyler, 1867, 1883; *Smoke: or, Life at Baden*, do francês, 1868, por W. F. West, 1872, 1883; *Liza: or, a Nest of Nobles*, do russo, por W. R. S. Ralston, 1869, 1873, 1884; *On the Eve* (um conto), do russo, por C. E. Turner, 1871; *Dimitri Roudine*, das versões francesa e alemã, 1873, 1883; *Spring Floods*, do russo, por S. M. Batts, 1874; do russo, por E. Richter, 1895; *A Lear of the Steppe*, do francês, por W. H. Browne, 1874; *Virgin Soil*, do francês, por T. S. Perry, 1877, 1883, por A. W. Dilke, 1878; *Poems in Prose*, do russo, 1883; *Senilia, Poems in Prose*, com Esboço Biográfico do Autor, por S. J. Macmillan, 1890; *First Love*, e *Punin and Baburin*, do russo, com uma Introdução Biográfica, por S. Jerrold, 1884; *Mumu*, e *The Diary of a Superfluous Man*, do russo, por H. Gersoni, 1884; *Annouchka* (um conto), do francês, por F. P. Abbott, 1884; do russo (com *An Unfortunate Woman*), por H. Gersoni, 1886; *The Unfortunate One*, do russo, por A. R. Thompson, 1888 (ver acima a tradução de Gersoni); *The Watch*, do russo, por J. E. Williams, 1893.

OBRAS: Romances, traduzidos por Constance Garnett, 15 volumes, 1894-99, 1906, 1921. Romances e Contos, traduzidos por Isabel F. Hapgood, com uma Introdução de Henry James, 1903, etc.

VIDA: Ver acima, Introduções Biográficas a *Poems in Prose* e *First Love*; E. M. Arnold, *Tourguéneff and his French Circle*, traduzido da obra de E. Halperine-Kaminsky, 1898; J. A. T. Lloyd, *Two Russian Reformers: Ivan Turgenev, Leo Tolstoy*, 1910.

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