Capítulo 1 — Parte 1
A MOSCA E A CAÇA.
Um cavaleiro com pólvora e chumbo
Encheu certa vez sua sacola — coisa que eu não faria,
a não ser que meu peito se visse
duramente apertado pela pobreza —
com pássaros e esquilos para os espetos
de certos citadinos glutões.
Com o coração alegre, o sujeito seguiu
direto ao Senhor Cem por Cento,
que amava, como bem se compreende,
toda caça boa e saborosa.
Este cavalheiro, com ar de conhecedor,
examinou com cuidado o lote delicado,
declarou-o picante, rico e raro;
e chamou a esposa, para consultar-lhe os desejos
acerca da compra para seus pratos.
A senhora achou as criaturas excelentes
e adequadas para o jantar, na hora certa;
tão doces e delicadas eram,
que mal podia esperar pelo jantar.
Mas eis que veio — poderia a sorte ser pior? —,
justamente quando o comprador puxava a bolsa,
uma mosca volumosa, com um zumbido solene,
e cheirou, como um inspetor faz,
este e aquele pássaro, e disse que a carne —
mas aqui não repetirei suas palavras —
era tudo menos própria para comer.
— Ah! — exclamou a senhora. — Há uma mosca
que nunca soube que contasse uma mentira;
sua casaca, veja, é verde-garrafa;
ela sabe uma ou duas coisas, creio eu;
meu caro, peço-lhe, não compre:
tais caças podem servir aos cães.
Assim, nosso caçador ambulante seguiu seu caminho,
sua alma possuída por esta conjectura
acerca de alguns homens, tal como as moscas:
aqueles que se inclinam a saborear a imundície encontram
uma mancha imunda mais cedo.
O CÃO E A GATA.
Um cão e uma gata, companheiros de vida,
frequentemente entravam em discórdia,
que chegava a arranhões, rosnados, mordidas,
e talvez, a cuspes no rosto.
Certa vez, um cão vizinho chegou por acaso
bem no início da briga deles,
e, pensando que Tray era bravo e cruel
ao rosnar tão agudamente para a Senhora Mew-well,
rosnou um tanto rudemente em seu ouvido.
— E quem é você para interferir? —
exclamou a gata, enquanto voava em seu rosto;
e, como era sábio, ele subitamente se retirou.
Parece que, apesar de todo o rosnar — o dele e o dela —,
Tray ainda era seu querido.
O CÂNTARO DOURADO.
Um pai, outrora, com dois filhos, tinha grandes planos para presenteá-los.
Por fim, a este curso chegou:
— Meus filhos — disse ele —, dentro do nosso poço
repousam dois tesouros, assim me disseram;
um deles é um pedaço de ouro submerso —
uma tigela talvez, ou um cântaro —,
o outro é algo muito mais rico.
Esses tesouros, se os puderem encontrar,
cada um poderá ser adequado ao seu gosto;
pois ambos são preciosos em seu gênero.
Para obter um, precisarão de um anzol;
o outro custará apenas um olhar.
Mas, ó, peço-vos, acautelai-vos disto! —
Vós que podeis escolher a parte tentadora —
uma pesca muito ansiosa pelo cântaro
pode arruinar aquilo que é muito mais rico.
Saíram os meninos, em busca dos seus presentes:
mas a ânsia foi contida pelo temor:
como poderia haver prêmio mais rico
que ouro sólido sob os céus?
Ou, se pudesse haver, como poderia residir
dentro de seu velho e musgoso poço?
Eram perguntas que excitavam a admiração
e mantinham sua avareza impetuosa sob controle.
Cada um temia escolher a taça dourada,
para não perder o presente melhor;
e assim resolveram nossos prudentes pares
que os presentes iriam compartilhar em comum.
O poço estava aberto ao céu.
Enquanto espiavam atentamente sobre sua borda,
parecia um túnel a perfurar,
de céu a céu, de azul a azul;
e, em sua boca inferior, cada um via
um par de seus antípodas,
com rostos sérios espiando para cima,
como se eles mesmos pudessem buscar a taça.
— Ah! — disse o mais velho, com uma risada. — Não precisamos dividir pela metade.
O mistério está claro para mim;
esse presente mais rico é livre para todos.
Sejam apenas tão verdadeiros quanto essa água,
e então o todo pertencerá a vocês.
Que a verdade em si valia tanto,
não se pode supor que tal
par de rapazes estivesse satisfeito;
e ainda assim eles estavam antes de morrer.
Mas se eles pescaram o ouro,
tenho certeza de que nunca me contaram.
Assim muito aprenderam, presumo eu —
e era isso que seu pai queria: —
se a verdade por riqueza sacrificamos,
desperdiçamos o prêmio mais rico.
DISPUTA PARTIDÁRIA.
Entre as feras surgiu uma rixa.
O leão, como diz a história,
depôs certa vez
seu cetro e sua coroa;
e em seu lugar as feras elegeram,
tantas vezes quanto lhes convinha,
uma espécie de rei *pro tempore* —
algum animal que muito respeitavam.
A princípio, todos concordaram.
O cavalo, o veado, o unicórnio
foram escolhidos cada um por sua vez;
e depois o nobre pássaro
que olha o sol sem se deslumbrar.
Mas a disputa partidária começou a correr
por tocas, covis e rebanhos.
Algumas feras propuseram o boi paciente,
e outras nomearam a raposa astuta.
A briga chegou a mordidas e socos;
nem foi devidamente resolvida
até que muitas feras corajosas
houvessem ganhado uma dor de cabeça,
ou, possivelmente, sangrado.
A raposa, como bem se poderia supor,
por fim, ergueu-se acima de sua rival,
mas, a verdade seja dita, seu reinado foi inútil,
sendo bastante infrutífero em honra.
Todas as feras prudentes começaram a ver
que o trono havia perdido certo encanto,
e, ganho pela discórdia, como devia ser,
mal valia o esforço que custou.
Então, quando sua majestade se aposentou,
poucas feras dignas desejaram seu lugar.
Especialmente agora mantinham-se afastados
os sábios de cabeça, os velozes de casco,
as feras cujos peitos eram à prova de batalha.
Consequentemente, aconteceu que,
não primeiro, mas, como dizemos, por fim,
para rei as criaturas escolheram o asno —
e ele, para primeiro-ministro, o porco.
É assim que o espírito partidário
é propenso a banir o mérito.
O GATO E O TORDO.
Um tordo que cantava uma ode rústica
fez certa vez de um jardim sua morada,
e deu ao dono tanto deleite
que se tornou um favorito especial.
De fato, seu senhor fez o possível
para mantê-lo a salvo de todo inimigo;
o chão ao redor de seu humilde ninho
não era perturbado por pá ou enxada.
E ainda assim seu canto era sempre o mesmo;
até ficou um tanto mais manso.
Por fim, Grimalkin avistou o bichinho,
resolvido a fazê-lo sofrer ainda,
e elaborou seu plano de devastação
para salvar sua reputação;
pois, na casa, com olhares recatados,
ele passava por honesto, gentil e puro.
Professando a busca por ratos e toupeiras,
ele diariamente passeia pelo jardim,
e nunca procura pegar nosso tordo;
mas quando sua consorte vem chocar,
apenas come os filhotes de uma vez.
A tristeza do casal desamparado
afligiu profundamente seu generoso guardião.
Mas ainda não se podia acreditar
que seu fiel gato estivesse errado,
embora o tordo o dissesse em seu canto.
O gato, portanto, continuou favorecido
para andar pelo jardim à vontade;
e daí os pássaros, para evitar a praga,
numa pereira construíram seu ninho.
Embora lá lhes custasse muito mais,
era vastamente melhor do que antes.
E o Velho Tordo logo descobriu
que sua garganta, quando elevada acima do chão,
emitia um som mais suave, mais doce.
Novas melodias, além disso, ele havia aprendido,
ensinado por perigos e aflições,
e encontrou novas coisas para cantar:
novas cenas haviam trazido novos talentos.
Então, enquanto, melhorado sem dúvida,
seu próprio velho canto soava mais claramente,
muito melhor do que eles próprios ele cantava
os cânticos e trinados de outros pássaros;
ele até zombou das palavras de Grimalkin
com um humor tão delicioso que
ganhou o nome cristão de Gato.
Que o Gênio diga em verso e prosa
o quanto deve a elogios e amigos.
O bom senso pode ser, como suponho,
tão devedor a seus inimigos.
* * * * *
Em 1844, o Senhor Wright escreveu o Prefácio à primeira edição coletânea das obras do poeta J. G. Whittier; e logo depois ele parece ter-se absorvido completamente na política e na poderosa luta antiescravagista, que constituiu a maior parte da política dos Estados Unidos naqueles e nos muitos anos seguintes. Ele se tornou jornalista pela causa antiescravagista; e, em 1850, escreveu uma resposta contundente aos “Latter Day Pamphlets” (Panfletos dos Últimos Dias) então recém-publicados do Senhor Carlyle. Mais tarde, tendo a escravidão sido finalmente abolida, ele apareceu como escritor em ainda outro campo, publicando várias obras, uma delas tão recentemente quanto em 1877, sobre seguros de vida.
Londres, 1881.
* * * * *
ANÚNCIO
À PRIMEIRA EDIÇÃO DESTA TRADUÇÃO.
[Boston, U.S.A., 1841.]
Quatro anos atrás, entrei no repositório de livros estrangeiros de Charles de Behr, na Broadway, Nova Iorque, e lá, pela primeira vez, vi as Fábulas de La Fontaine. Era uma cópia barata, adornada com cerca de duzentas xilogravuras que, por sua aparência gasta, denotavam uma extensa manufatura. Tornei-me comprador e dei o livro ao meu filho pequeno, que então começava a sentir o magnetismo intelectual das imagens. No decorrer do ano seguinte, ele frequentemente testava meu conhecimento imperfeito de francês quanto à história que pertencia a alguma vinheta favorita. Isso me levou a inquirir se existia alguma versão em inglês; e, não encontrando nenhuma, resolvi, embora bastante desacostumado a exercícios literários desse tipo, enganar o sono por uma hora todas as manhãs até que houvesse uma. O resultado está diante de vocês. Se nisto prejudiquei La Fontaine, espero que o mais bondoso dos poetas, assim como vocês, me perdoe e culpe os mais qualificados, que por tanto tempo negligenciaram a tarefa.
Cowper deveria tê-lo feito. O autor de *John Gilpin* e *The Retired Cat* (A Gata Aposentada) teria levado La Fontaine para cada canto de chaminé que ressoa com a língua anglo-saxônica... A vocês que tão generosamente me permitiram publicar esta obra com tão grandes vantagens e sem vender os direitos autorais pela promessa de uma canção, retorno meus sinceros agradecimentos.
Um estranho com rosto afilado, de óculos e com roupas gastas bateu às suas portas, com um prospecto não apoiado "pelo comércio", solicitando sua assinatura para uma edição cara de uma mera tradução. É uma espécie de literatura das mais inglórias e insatisfatórias. A menor preponderância daquela sabedoria mundana que nunca compra gato por lebre tê-lo-ia mandado, ele e sua tradução, de volta. Mas uma bondosa fé em sua espécie prevaleceu no caso de vocês. Vocês não apenas deram ao estranho faminto seus bons votos, mas também seus bons nomes. Uma lista desses nomes me encantaria inserir; e certamente o faria se me sentisse autorizado. Assim sendo, espero ser perdoado por mencionar alguns dos indivíduos que não apenas deram seus nomes, mas expressaram um interesse em minha empreitada que me auxiliou em sua realização. O Rev. John Pierpont, o Prof. George Ticknor, o Prof. Henry W. Longfellow, William H. Prescott, Esq., o Hon. Theodore Lyman, o Prof. Silliman, o Prof. Denison Olmsted, o Chanceler Kent, William C. Bryant, Esq., o Dr. J. W. Francis, o Hon. Peter A. Jay, o Hon. Luther Bradish e o Prof. J. Molinard têm reivindicações especiais à minha gratidão...
A obra — como ela é, não como deveria ser — confio à sua bondade. Não afirmo ter conseguido traduzir "o inimitável La Fontaine" — talvez eu nem tenha o direito de dizer em sua própria língua: *J'ai du moins ouvert le chemin* (Pelo menos abri o caminho).
Como quer que seja, sou, agradecidamente,
Seu servo obediente,
Elizur Wright, Jr.
Dorchester, setembro de 1841.
* * * * *
UM PREFÁCIO SOBRE
A FÁBULA, OS FABULISTAS E LA FONTAINE.
Pelo Tradutor.
A natureza humana, recém-saída das mãos de Deus, era cheia de poesia. Sua sociabilidade não podia ser contida nos limites do real. Aos habitantes menores do ar, da terra e da água — e até mesmo a esses próprios elementos, em todas as suas partes e formas — ela deu fala e razão. Os céus ela povoou com seres, no mais nobre modelo de que pudesse ter qualquer concepção — a saber, a sua própria. A interação desses seres, assim criados e dotados — desde a divindade acesa na imortalidade pela imaginação, até o torrão personificado por um momento — gratificava uma de suas propensões mais fortes; pois o homem pode muito bem ser definido como o animal histórico. A faculdade que, em idades posteriores, haveria de registrar as realidades desenvolvidas pelo tempo, a princípio não tinha outro emprego senão o de registrar as produções da imaginação. Daí, a fábula floresceu e amadureceu na mais remota antiguidade. Vemo-la misturar-se com a história primeva de todas as nações. Não é improvável que muitas das narrativas que nos foram preservadas, pela casca ou pergaminho das primeiras histórias rudimentares, como fatos sérios, fossem originalmente apólogos, ou parábolas, inventadas para dar poder e asas a lições morais, e depois modificadas, em sua passagem de boca em boca, pela bem conhecida magia da credulidade. Os poetas mais antigos ornavam suas produções com apólogos. A fábula de Hesíodo sobre o Falcão e o Rouxinol é um exemplo. A fábula ou parábola era antigamente, como ainda hoje o é, uma arma favorita dos oradores mais bem-sucedidos. Quando Jotão quis mostrar aos siquemitas a loucura de sua ingratidão, proferiu a fábula da Figueira, da Oliveira, da Videira e do Espinheiro. Quando o profeta Natã quis obrigar Davi a proferir uma sentença de condenação contra si mesmo na questão de Urias, trouxe diante dele o apólogo do homem rico que, tendo muitas ovelhas, tirou a do homem pobre que tinha apenas uma. Quando Joás, o rei de Israel, quis repreender a vaidade de Amazias, o rei de Judá, remeteu-o à fábula do Cardo e do Cedro. Nosso bendito Salvador, o melhor de todos os mestres, era notável por seu uso constante de parábolas, que são apenas fábulas — dizemos isso com reverência — adaptadas à seriedade dos assuntos sobre os quais discorria. E, na história profana, lemos que Estêsicoro colocou os himerianos em guarda contra a tirania de Fálaris pela fábula do Cavalo e do Veado. Ciro, para a instrução dos reis, contou a história do pescador obrigado a usar suas redes para pescar os peixes que faziam ouvidos moucos ao som de sua flauta. Menênio Agripa, desejando trazer de volta o povo romano amotinado do Monte Sagrado, encerrou sua arenga com a fábula do Ventre e dos Membros. Um lígure, a fim de dissuadir o Rei Comano de ceder aos focenses uma porção de seu território como local para Marselha, introduziu em seu discurso a história da cadela que pegou emprestado um canil para dar à luz seus filhotes, mas, quando estes estavam suficientemente crescidos, recusou-se a devolvê-lo.
Em todos esses exemplos, vemos que a fábula era um mero auxiliar do discurso — um instrumento do orador. Tal, provavelmente, foi a origem dos apólogos que agora constituem a maior parte das coleções mais populares. Esopo, que viveu cerca de seiscentos anos antes de Cristo, tanto quanto podemos apreender da realidade de sua vida, foi um orador que empunhava o apólogo com notável habilidade. De uma condição servil, ascendeu, pela força de seu gênio, a ser conselheiro de reis e estados. Sua sabedoria era muito procurada, em todas as partes e nas ocasiões mais importantes. Os apólogos concisos que caíam de seus lábios, que, como as regras da aritmética, resolviam os difíceis problemas de conduta humana que lhe eram constantemente apresentados, foram lembrados quando os discursos que os continham foram esquecidos. Ele parece não ter escrito nada; mas não demorou para que as joias que espalhou começassem a ser reunidas em coleções, como uma espécie distinta de literatura. O grande e bom Sócrates ocupou-se, enquanto na prisão, de transformar as fábulas de Esopo em verso. Embora apenas alguns fragmentos de sua composição tenham chegado até nós, pode, talvez, ser considerado o pai da fábula, considerada como uma arte distinta. Induzidos por seu exemplo, muitos poetas e filósofos gregos experimentaram a arte. Arquíloco, Alceu, Aristóteles, Platão, Diodoro, Plutarco e Luciano nos deixaram espécimes.
Coleções de fábulas com o nome de Esopo tornaram-se correntes na língua grega. No entanto, foi apenas no ano de 1447 que a grande coleção que hoje leva seu nome foi publicada em prosa grega por Planudes, um monge de Constantinopla. Este homem transformou a própria vida de Esopo em uma fábula; e La Fontaine fez-lhe a honra de traduzi-la como prefácio de sua própria coleção. Embora carregada de puerilidades insuportáveis, não é sem a moral de que um exterior rude e deformado pode esconder tanto a sagacidade quanto o valor.
A coleção de fábulas em verso grego de Bábrias era extremamente popular entre os romanos. Era o livro favorito do Imperador Juliano. Apenas seis dessas fábulas, e alguns fragmentos, permanecem; mas são suficientes para mostrar que seu autor possuía todas as graças de estilo que convêm ao apólogo. Alguns críticos o situam na Era Augustana; outros o consideram contemporâneo de Mosco. Sua obra foi versificada em latim, a pedido de Sêneca; e Quintiliano refere-se a ela como um livro de leitura para meninos. Assim, em todos os tempos, essas ficções lúdicas foram consideradas lições adequadas para crianças, bem como para homens, que muitas vezes são apenas crianças crescidas. Tão populares foram as fábulas de Bábrias e sua tradução latina, durante o Império Romano, que a obra de Fedro mal foi notada. Este último era um liberto de Augusto, e escreveu no reinado de Tibério. Seu verso é quase inigualável por sua elegância e concisão requintadas; e a posteridade o vingou abundantemente da negligência dos contemporâneos. La Fontaine talvez seja mais devedor a Fedro do que a qualquer outro de seus predecessores; e, especialmente nos seis primeiros livros, seu estilo tem muito da mesma curiosa condensação. Quando a sede do império foi transferida para Bizâncio, a língua grega precedeu o latim; e o retórico Aftônio escreveu quarenta fábulas em prosa grega, que se tornaram populares. Além dessas coleções entre os romanos, encontramos apólogos espalhados pelos escritos de seus melhores poetas e historiadores, e embalsamados naqueles espécimes de sua oratória que nos chegaram.
Os apólogos dos gregos e romanos eram breves, concisos e epigramáticos, e suas coleções não tinham nenhum princípio de conexão. Mas, ao mesmo tempo, embora provavelmente desconhecida para eles, a mesma espécie de literatura florescia em outros lugares sob uma forma um tanto diferente. Questiona-se se Esopo, por meio dos assírios, com quem os frígios tinham relações comerciais, não teria tomado emprestado sua arte dos orientais, ou a eles a teria emprestado. Este assunto disputado deve ser deixado para aqueles que têm gosto por tais investigações. Certo é, no entanto, que a fábula floresceu muito antigamente com o povo cuja fé abraça a doutrina da metempsicose.
Entre os hindus, existem duas coleções muito antigas de fábulas, que diferem daquelas que já mencionamos por terem um princípio de conexão em toda a obra. São, de fato, romances ou dramas extensos, nos quais todo tipo de criatura é introduzida como ator, e nos quais há um desenvolvimento de sentimento e paixão, bem como de verdade moral, sendo o todo elaborado num sistema de moralidade particularmente adaptado ao uso daqueles chamados a governar. Uma dessas obras chama-se *Pantcha Tantra*, que significa "Cinco Livros", ou Pentateuco. É escrita em prosa. A outra chama-se *Hitopadesa*, ou "Instrução Amigável", e é escrita em verso. Ambas estão na antiga língua sânscrita e levam o nome de um brâmane, Vishnoo Sarmah,[1] como autor. Sir William Jones, que se inclina a fazer deste autor o verdadeiro Esopo do mundo, e a duvidar da existência do frígio, dá-lhe a preferência sobre todos os outros fabulistas, tanto em matéria quanto em maneira. Ele deixou uma tradução em prosa do *Hitopadesa*, que, embora possa não sustentar plenamente sua preferência entusiástica, mostra que ela não é totalmente infundada. Damos uma amostra dela, e selecionamos uma fábula que La Fontaine usou como a vigésima sétima de seu oitavo livro.
Deve-se entender que a fábula, com as reflexões morais que a acompanham, é retirada do discurso de um animal para outro.
[1] Vishnoo Sarmah. — Sir William Jones usa o nome *Vishnu-sarman*. Ele diz, ainda, que a palavra *Hitopadesa* vem de *hita*, significando fortuna, prosperidade, utilidade, e *upadesa*, significando conselho, sendo a palavra inteira significando "instrução salutar ou amigável". — Ed.
— A frugalidade deve ser sempre praticada, mas não a parcimônia excessiva; pois veja como um avarento foi morto por um arco puxado por ele mesmo!
— Como foi isso? — disse Hiranyaca.